quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Olhei pela janela do quarto e o sol ainda nascia, tímido, deixando as nuvens com a coloração laranja. Ele podia passar despercebido em meio a tanta serração. E dei-me conta que o mesmo poderia acontecer comigo.
Olhei para a cama no meio do quarto e quis novamente sentir aquele corpo junto ao meu. 
Só mais uma noite dar rédeas a promessas, gostos e desejos.
Só mais uma vez, eu e ele. 
Balancei a ca
beça, me negando esse prazer.
E me lembrei da noite, em que quando ele falava 'eu te amo' eu retribuía com um beijo. Ou era o contrário? Ou era eu que o calava com toda a paixão que não sabia existir dentro de mim?
A cama desforrada, que tentador! Poderia ir agora para casa, sair devagarzinho, sem fazer barulho. Iria embora e ficaria entre lençóis, sozinha. Como fico em toda as manhãs, aliás.
Nunca, nunca mesmo fiquei em camas estranhas. E agora sinto vontade de fugir. Daqui e de mim. Vontade de fugir dessa, que já é a terceira noite, ou quarta?
Ficar com ele é uma área extremamente perigosa.
Com calma eu saí pegando minhas roupas espalhadas pelos cantos.
Tenho que sair daqui, antes que ele acorde e eu fique tentada a me juntar ao dono daquela voz tão rouca e tão linda.
Coloquei o sutiã e procurei pelo vestido.
Ia saindo da casa quando parei. O que esqueci? Sapatos ou a bolsa? Não estava esquecendo nada. Aquele não era o meu quarto.
Tentei, mas não consegui seguir adiante. Meus olhos mais uma vez pousaram sobre a cama. Inevitável não lembrar do que aconteceu na noite passada. Ri com ele e ri de mim mesmo. E tudo isso com ele segurando em minhas mãos. Gostei disso tudo. E então, porque estou indo?
Achei melhor deixar um recado, e saí procurando algum pedaço de papel.
Me virei mais uma vez e olhei pra aquele corpo, cheirando tão bem, e quis ficar. Aqui, com ele. Quis ver como era amanhecer com alguém a meu lado.
Depois isso, poderia ir pra casa, com qualquer desculpa esfarrapada arranjada de última hora.
Voltei para a cama, vestida mesmo. E ele estava de olhos fechados e um sorriso nos lábios. Fiquei pensando no que ele tinha que me fez quebrar minhas regras.
Logo eu, que nunca fui de permanecer, por ele ficaria. E tirei minha roupa. Quem sabe ele me olha doce todas as manhãs e repete o que seus lábios sempre me contam.
Ah moço, tantas coisas que eu não sei lidar e nem explicar..
Só sei que eu não queria ficar. Mas fiquei.

                        - "Pensamentos e uma cama" por Larissa Rebecca