sábado, 15 de setembro de 2012


— Sr. Natanael Constâncio chamou a enfermeira educadamente o Dr. John lhe espera.
O homem que sentava a três cadeiras de distância da minha levantou-se e seguiu em direção a porta indicada pela enfermeira. Observei-o entrar na sala pensando: espero que este seja mais rápido que o anterior. Parecia nervoso, mas não o culpo, afinal, eu mesmo carregava minha própria parcela de nervosismo. Estava ali há cerca de sete minutos, mas ouvi comentários de que o paciente anterior demorara cerca de 90min, o equivalente ao dobro do tempo de uma consulta normal.
— Você parece nervoso disse o homem da cadeira ao lado com um sorriso complacente.
— Sim, é minha primeira vez — respondi. Minha cabeça fervilhava com dúvidas.
— Imaginei que fosse disse ele num tom agradável. — Venho me consultando mensalmente com o Dr. John há cerca de um ano. Mas não se preocupe demais, estará em boas mãos, posso lhe garantir.
O estranho na cadeira ao lado não fazia ideia do turbilhão de pensamentos e réplicas que davam voltas em minha cabeça e ainda assim tentava me apaziguar. Sorri em resposta.

Olhei ao redor, e observei pessoas, tão diferentes e com olhares tão perdidos. Havia a senhora, encostada na parede e com a atenção na televisão, prendida no alto da parede. Também tinha uma moça, remexendo na bolsa, talvez buscando lembranças, parecendo que ia chorar. Um menino acompanhado da mãe, encarando-me com uma expressão insatisfeita. Havia tantos, e havia eu, que os observava para fugir de mim.

A porta do consultório se abriu, e dela saiu um moço, trocou um breve cumprimento com o doutor, e foi embora. Chegou a vez da moça da bolsa.
Minutos mais tarde ela retorna com uma receita em mãos. Olho para seu rosto e não o vejo mais feliz do que quando ela entrara.

Olhando para ela, entendi que não precisava estar ali. Não poderia me consertar com uma caixa de remédios e uma conversa de minutos com um desconhecido. Seria ali, naquele ambiente nada feliz, que me acharia? Ali, onde tudo era automático? O que eu estava fazendo aqui?

E eu quis sair de lá, sentar em um banco qualquer e apreciar o vento. Andar sem destino certo, sem planejamentos.
Não precisava esperar minha vez, em meio a tanta desolação. Não precisava entrar naquele consultório e utilizar de remédios.

E desisti dessa consulta. Abri a porta e saí correndo dali. Eu não sabia onde estava. Não o corpo, e sim a mente. Talvez eu não conseguisse me achar, mas eu posso tentar. Pelo menos uma vez. (...) Eu não precisava entrar em algum lugar, o que eu estava precisando e não tomava conhecimento disso, era entrar em mim.

              - Long Wait, por Larissa Rebecca e Caleb Henrique