— Sr. Natanael Constâncio —
chamou a enfermeira educadamente — o Dr. John lhe espera.
O
homem que sentava a três cadeiras de distância da minha levantou-se e seguiu em
direção a porta indicada pela enfermeira. Observei-o entrar na sala pensando: espero que este seja mais rápido que o
anterior. Parecia nervoso, mas não o culpo, afinal, eu mesmo carregava
minha própria parcela de nervosismo. Estava ali há cerca de sete minutos, mas
ouvi comentários de que o paciente anterior demorara cerca de 90min, o equivalente
ao dobro do tempo de uma consulta normal.
— Você parece nervoso — disse
o homem da cadeira ao lado com um sorriso complacente.
— Sim, é minha primeira vez — respondi. Minha cabeça
fervilhava com dúvidas.
— Imaginei que fosse — disse
ele num tom agradável. — Venho me
consultando mensalmente com o Dr. John há cerca de um ano. Mas não se preocupe demais,
estará em boas mãos, posso lhe garantir.
O estranho na cadeira ao lado não
fazia ideia do turbilhão de pensamentos e réplicas que davam voltas em minha
cabeça e ainda assim tentava me apaziguar. Sorri em resposta.
Olhei ao redor, e observei pessoas,
tão diferentes e com olhares tão perdidos. Havia a senhora, encostada na parede
e com a atenção na televisão, prendida no alto da parede. Também tinha uma
moça, remexendo na bolsa, talvez buscando lembranças, parecendo que ia chorar.
Um menino acompanhado da mãe, encarando-me com uma expressão insatisfeita. Havia
tantos, e havia eu, que os observava para fugir de mim.
A porta do
consultório se abriu, e dela saiu um moço, trocou um breve cumprimento com o
doutor, e foi embora. Chegou a vez da moça da bolsa.
Minutos mais
tarde ela retorna com uma receita em mãos. Olho para seu rosto e não o vejo
mais feliz do que quando ela entrara.
Olhando para ela, entendi que não
precisava estar ali. Não poderia me consertar com uma caixa de remédios e uma
conversa de minutos com um desconhecido. Seria ali, naquele ambiente nada
feliz, que me acharia? Ali, onde tudo era automático? O que eu estava fazendo
aqui?
E eu quis sair de lá, sentar em um
banco qualquer e apreciar o vento. Andar sem destino certo, sem planejamentos.
Não precisava esperar minha vez, em
meio a tanta desolação. Não precisava entrar naquele consultório e utilizar de
remédios.
E desisti dessa consulta. Abri a porta
e saí correndo dali. Eu não sabia onde estava. Não o corpo, e sim a mente.
Talvez eu não conseguisse me achar, mas eu posso tentar. Pelo menos uma vez.
(...) Eu não precisava entrar em algum lugar, o que eu estava precisando e não
tomava conhecimento disso, era entrar em mim.
- Long Wait, por Larissa Rebecca e Caleb Henrique